À conversa com Carlos Farinha

Nome: Carlos Farinha
Disco preferido: Preferia falar de vários autores que fui descobrindo ao longo da minha vida - Satie, Win Mertens e Nina Simone
Escritor ou livro preferido: gosto de autores como Eça de Queiroz, Gonçalo M.Tavares e Jorge Perec
Cidade portuguesa de eleição: Lisboa, a minha cidade


De que forma a sua passagem por França, onde esteve emigrado com os seus pais até 1985, influenciou a sua carreira?
Foi um momento muito importante na minha vida. O facto de sair de França aos 14 anos fez-me desenhar muito. Porque  tinha alguns problemas de comunicação refugiei-me no mundo do desenho.

Como e quando começou esta paixão pela pintura? 
Acho que tive sempre o gosto pela pintura. Lembro-me de olhar, quando era bem mais novo, para um pacote de algodão com uma representação da Gioconda monocromática e perder imenso tempo a admira-la.

Soube logo que era enquanto pintor que continuaria a traçar a sua vida?
Foi muito natural, deixei-me ir. As coisas foram acontecendo e actualmente não me vejo a fazer outra coisa.

Qual a reacção dos pais?
Deram-me sempre apoio e incentivaram-me sempre a seguir os meus sonhos. Os meus pais são fantásticos!

Com que pintores mais se identifica?
Bosch, Goya , Courbet,  Brughuel  e Paula Rego. 

Técnica de eleição?
Acrílico sobre tela.

E as obras?
Várias: A criação do mundo de G. Courbet,  O jardim das delícias de Jeronimhus Bosch e o Guernica de P. Picasso 

Na sua vida profissional quem foi até hoje a sua maior referência?
Foram vários. Gosto especialmente de artistas com profundo sentido de  autoria, tais como Bacon, Freud, Hopper e Basquiat.

Quem é o “Monsieur Sousa”? Figura presente na sua última exposição em Paris. 
É uma alegoria do português da primeira geração, pronto a fazer tudo para ganhar a vida.

Na sua exposição notam-se facilmente os “clichés” habituais do mundo português – o fado, o futebol, a sardinha, o bigode, ... – uma realidade que se mantém ou que se vai desconstruindo com o tempo?
Alguns aspectos mantêm-se. Contudo, acho que a língua é o elemento essencial nessa continuidade. O resto vai-se diluindo, ganhando novas formas.

Porque Portugal continua tão distante da emigração que retrata na sua exposição?

O português continental olha em demasia para o seu umbigo. Acomodam-se a uma forma altiva e acomodada de ver a Portugalidade.  Sofrem a síndrome da capital do Império. Falta investir, fazer trocas, criar canais que possam potenciar e desenvolver uma verdadeira política cultural para Portugal e as suas comunidades.

O prémio Nobel José Saramago comprou algumas das suas obras. O que sentiu ao ter tão importante figura da nossa historia tão próxima do seu trabalho?
Foi um episodio marcante na minha vida. Tinha na altura 20 anos, e senti um conforto, pois acreditei estar na direcção certa.

O que ouve enquanto pinta?
Sou bastante ecléctico. Não tenho grande preferência ou estigma sobre um tipo de música enquanto pinto.

Considera Portugal um país culturalmente activo?
Nada. Infelizmente a crise está a estrangular a produção cultural em Portugal.

Paralelo aos outros países europeus?
Muito pior.  

O reconhecimento dos artistas portugueses no estrangeiro é uma ilusão?
Depende dos contextos. Mas não somos melhores, nem piores. Temos as nossas valências.
Temos de acreditar que conseguimos. Mais tarde, seguramente, teremos esse reconhecimento.

E em Portugal?
Temos de mudar de mentalidade. Portugal é demasiado periférico e dependente do maneirismo do centro da Europa, e do seu gosto. Para marcar a diferença temos de procurar um discurso que seja diferente do resto do Mundo.

Considera que a pressão para a originalidade encaminhe vários artistas à mediocridade?
Sinceramente, acho que os mecanismos actuais de criação facilitam, e permitem que muita gente, sem quaisquer capacidades, se outorgue de artista. Mas no seu intimo não possuam nada de substancial. Apenas  vontade. Usam discursos e mecanismos encontrados por grandes artistas, copiando-os muitas vezes de maneira medíocre. 

Teve o devido suporte e promoção junto da comunidade portuguesa no estrangeiro, da parte das entidades governamentais portuguesas?
Os espaços de divulgação cultural em Portugal são cada vez mais escassos. No estrangeiro igualmente. E isso reflecte o interesse pela cultura, e o suporte que tive na minha vinda a Paris.

Quais os seus próximos projectos?
Tenho uma ida a Macau em Novembro para a criação de um mural.

Tem um suporte on-line onde os nossos leitores possam acompanhar a sua carreira?

Podem acompanhar-me nas redes sociais em Carlos Farinha, ou através do meu site www.carlosfarinha.com


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