José de Eça: "eu posso dizer que nasci num berço musical"

Nome: José de Eça
Disco preferido:  Frank Sinatra – “Strangers in the Night”
Escritor preferido: Eça de Queiroz   
Cidade portuguesa de eleição:  A cidade “Invicta”, Porto.

Esteve recentemente em Paris. O que sente quando canta em Paris?
Paris.... Senti de tudo e gostei de tudo o que senti. Cantar em Paris foi um sonho tornado realidade.
Curiosamente sentia-me em casa...
É uma  cidade  romântica, cheia de glamour, de arte,  de cultura e tradição. De todas as cidades que visitei até hoje é sem dúvida a minha preferida.

Como descobriu a música? Como tudo começou?
Uns nascem em berço de ouro, eu posso dizer que nasci num berço  musical.
Os meus pais são ambos músicos. A minha mãe, Maria de Almeida de Eça, professora de formação musical e piano, e o meu Pai, o famoso barítono José de Oliveira Lopes.

E o canto?
Descobri o canto desde muito cedo devido à influência do meu Pai. Nunca fui forçado a nada, nem nunca fui obrigado a estudar música. Foi tudo muito natural e de livre vontade.
Lembro-me de um dia de verão, teria eu uns 12 ou 13 anos,  chegado a casa depois de um dia de praia, e o meu Pai ouvia um cantor, cuja voz entrara-me pelo coração. Era Giuseppe de Stefano, grande tenor italiano, a cantar  “ O sole mio “. Desde então que passei as minhas tardes tardes a trautear  “Ma n´atu sole cchiu bello, oi ne...”, começando a pedir aulas ao meu Pai, que ficou entusiasmadíssimo!!

Quando decidiu ser músico?
Sinceramente acho que nunca decidi, desde que comecei nunca pensei em mais nada!Não me vejo sem a música, é algo inerente.


Com que época e compositor mais se identifica?
Sem dúvida com o período do romantismo. Identifico-me muito com Schubert e Schumann, no Lied, claro, mas também com Verdi e Puccini, na ópera.

O que acha do escasso numero de obras editadas, publicadas e comercializadas em Portugal nos últimos anos?
É claramente um reflexo da forma como o País trata a cultura e os artistas portugueses. 

Porque o resto do Mundo continua tão distante dos grandes intérpretes e compositores portugueses?
Tem havido alguma projecção internacional, contudo, e estranhamente, o mundo artístico português nem sequer tem noção dessa projecção de certos artistas. Infelizmente, e não querendo tirar mérito ao meu jogador preferido, em Portugal não se fala muito mais do que quando, por exemplo, o  Cristiano Ronaldo ganha a Bola de Ouro. 

Qual o seu compositor português de eleição?
Acho as obras de Lacerda lindíssimas… mas não posso  esquecer Lopes Graça, Cláudio Carneiro, Luís de Freitas Branco… entre muitos outros.

E a obra?
Como fã que sou de Fernando Pessoa, a obra de eleição é “O menino da sua mãe” de Lopes Graça.

O que ouve no carro?
Passo um pouco por tudo, desde Frank Sinatra até Beatles.

Acha que as Arte é considerada prioridade em Portugal?
Claro que não, a Arte nem sequer em quinto ou sexto plano está. No entanto, percebo que actualmente haja problemas mais graves a serem resolvidos, nomeadamente na saúde e na educação.

Acha que os artistas portugueses, especialmente os músicos eruditos têm o devido suporte e a promoção junto da comunidade portuguesa no estrangeiro, da parte das entidades governamentais portuguesas?
Só posso falar do meu caso, e até hoje tenho tido a sorte de poder contar com alguns apoios governamentais.

O reconhecimento dos artistas portugueses no estrangeiro é uma ilusão?  
Penso que não, temos vários exemplos de artistas portugueses com muito reconhecimento. 

E em Portugal? 
Em Portugal a questão é bastante complicada visto que não há tantas oportunidades para “vingar” neste ramo.

O que acha da nova geração de músicos? Alguém a destacar?
Em Portugal temos grandes talentos com carreiras promissoras, não falo apenas de cantores, mas também de pianistas, violinistas, violoncelistas,  guitarristas,  entre outros.Tenho que destacar obviamente o trabalho impressionante do tenor Paulo Ferreira que faz parte da geração actual de músicos e que esta a ter uma grande projecção no estrangeiro.

Quais os seus próximos projectos?
Regresso aos palcos já no mês  corrente para fazer o famoso ciclo de Schumann “ Dichterliebe”.  Este ano é especialmente importante para mim por vários motivos,  um deles porque me “assumi” como tenor depois de ter feito uma carreira interessante como barítono.

Algo agendado em território francês?
Em território francês irei regressar em Agosto, para o festival “Musique en Vallée du Tarn”.

Tem um suporte on-line onde os nossos leitores possam acompanhar a sua carreira?
Neste momento tenho apenas uma página no Facebook, no entanto esta já em desenvolvimento uma página oficial para que seja mais fácil a difusão do meu trabalho e acompanhamento do mesmo por parte do público. 

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