10 perguntas a António de Sousa Dias

Nome?
António de Sousa Dias

Como começou a paixão pela música?
A minha paixão pela música foi algo que se foi instalando. Como escreveu Pessoa num slogan, "primeiro estranha-se, depois entranha-se".
Diria que a minha relação com a música foi similar: aos quatro anos comecei em cursos de iniciação musical na Gulbenkian, e depois, mais tarde, seguiu-se a prática de instrumento (guitarra e piano). Por volta dos 16, 17 anos comecei a sentir a necessidade de escrever música e desde então diria que o meu caminho ficou traçado.
Após uma passagem breve pela engenharia (electrónica e telecomunicações) acabaria por terminar o Curso Superior de Composição e, aos 24 anos, estava leccionar Harmonia e Análise e Técnicas de Composição no Conservatório de Musica de Lisboa.
Hoje, ligado também a outras áreas, como o multimédia, a instalação e a criação sonora e visual, diria até que a paixão não desapareceu e revelou-se, para mim, um caso de amor.


O que mais o inspira nas suas composições?
É uma pergunta de difícil resposta. Conforme o contexto. Por vezes assalta-me uma ideia que pode provir de uma questão musical abstracta, outras vezes de um desafio sonoro ou ainda de algo aparentemente extrínseco à música e que eu encontro vontade de exprimir musicalmente.
Para dar alguns exemplos, quando escrevi “O Jardim das chuvas de todo o sempre” imaginei um local que não existe na “Nova Atlântida” de Francis Bacon mas que, um pouco à maneira de Borges, aí o situei. “Rumbinação, definitivamente!” é uma obra na qual as articulações estabelecidas por certos acordes seguem a proporção 9:10 advogada por Almada Negreiros. Em “TêTrês” procurei articular e sobrepor várias formas de conceber a ideia de espaço. “Quand trois poules vont aux champs” é uma obra electroacústica que coloca em jogo várias referências musicais, de síntese sonora e até mesmo como ver/ouvir galos e galinhas. Presentemente estou a construir todo o universo musical e sonoro de “A Dama e o Unicórnio”, uma obra escrita em parceria com Maria Teresa Horta, da qual resultará uma performance para actriz e electrónica, uma instalação e um livro de poemas com CD-audio, com estreia prevista para final de Outubro no Teatro Municipal de São Luiz.


A viver em território francês, onde também se formou, o que mais o moveu a escolher França?
Sempre tive uma inclinação pela cultura francesa. Na minha formação liceal, o francês tinha mais peso que o inglês e também os meus professores, a nível de Conservatório, nomeadamente a Constança Capdeville estavam mais próximos da cultura francesa. Por outro lado, sempre li em francês, desde a banda desenhada a textos sobre música (Iannis Xenakis, Pierre Boulez, Olivier Messiaen, René Leibowitz, Vladimir Jankélévitch, entre muitos outros).
Mas o mais importante, e a razão principal da escolha, reside no facto de considerar a França como um país onde as noções de liberdade e democracia ainda se mantêm, onde a cultura e sobretudo a criação “se respiram”, apesar de todos os problemas conjunturais que nos afectam presentemente.


As suas composições estão todas editadas? Por qual editora?
Nem todas as minhas composições estão editadas. As que estão disponíveis podem ser encontradas no site do Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa (em http://www.mic.pt/). Quanto às restantes podem ser obtidas através de contacto para o meu site (http://www.sousadias.com).


Como vê o panorama musical português? Podemos afirmar que existe uma vida cultural verdadeiramente activa em Portugal?
Penso que o panorama português sempre foi de boa qualidade. Temos excelentes compositores, intérpretes, performers e, desde 1992, iniciou-se um grande desenvolvimento da nossa vida cultural musical que na primeira década do século XXI começou a dar os seus frutos. Neste momento, considero que todas estas promessas estão em risco, e a usual subvalorização da cultura em geral (e da arte em particular) pelos nossos governantes atingiu um novo pico de intensidade.


Os músicos procuram obras de compositores portugueses, ou a maioria ainda se encontra de costas voltadas aos seus contemporâneos?
Hoje, com a necessidade de novos reportórios para atrair novos públicos penso que há uma (ainda) maior abertura por parte dos músicos intérpretes. Para tal penso terá também contribuído o convívio destes últimos com os seus colegas compositores durante os anos de aprendizagem. Não esqueçamos que a realidade cultural e o ensino da música em Portugal se alteraram de forma muito marcante nos últimos decénios.


Considera o mercado cultural francês acessível aos músicos portugueses em geral, numa variante mais erudita?
A questão é de difícil resposta. Mesmo a variante erudita tem várias vertentes que correspondem a diferentes escolas, estéticas, e até mesmo diferentes concepções de cultura.
Diria que o que é institucionalizado, ou circula através de instituições, tem mais facilidade de se tornar acessível, dados os canais de comunicação colocados à disposição. Tudo o resto será menos acessível, o que não quer dizer que não hajam circuitos alternativos, embora implicando menor divulgação.


Tem algum projecto para breve em território francês?
Sim. Ainda é cedo para falar sobre isso, pois alguns dos projectos que tenho na forja ainda estão numa fase de preparação. No entanto, espero que já em 2014 se concretizem dois projectos. Entretanto, os projectos que tenho mantido com o grupo Les Phonogénistes - “Vertiges de l’espace” e “Vertiges de l’image” (neste último, que foi editado em DVD, realizo a imagem) – irão continuar, embora com as alterações e modificações próprias de projectos que se actualizam e evoluem.


Tem alguma plataforma on-line onde possamos acompanhar o seu trabalho?
Sim, em http://www.sousadias.com.




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