Duo de pianistas Nelly Santos Leite e Graça Mota à conversa com Ricardo Vieira




Com mais de 25 anos de experiência de palco enquanto duo, as pianistas Nelly Santos Leite e Graça Mota encantam os vários palcos do mundo com a belissima interpretação de obras para piano a dois pianos e 4 mãos.

Quem é Graça Mota?
Nelly Santos Leite: Alguém com quem se tem prazer de conversar através da Música, pelo seu excelente fraseio e dicção musical. Pessoalmente, por afinidades na interpretação. Três palavras definem o meu relacionamento com Graça Mota: amizade, admiração, cumplicidade. A tal cumplicidade musical que define um puzzle de 2 peças.

Quem é Nelly Santos Leite? 
Graça Mota: Admiração e cumplicidade. Essas qualidades estão sempre presentes quando tocamos e quando juntas partilhamos a música que fazemos. A Nelly é um espírito superior, que vê muito para além do valor facial das coisas e isso reflete-se também no seu modo de olhar para a música. É difícil descrever o prazer que tenho em tocar com ela.

Onde se conheceram?

Conhecemo-nos enquanto discípulas da pianista Helena Moreira de Sá e Costa. Entretanto, cada uma seguiu os seus caminhos e voltamos a encontrar-nos, anos depois, nos Cursos de Jos Wuytak, em Vila Nova de Gaia e no Porto. Na sequência desse encontro, mantivemo-nos em contacto e viemos a publicar 2 livros para a Educação Musical no Ensino Genérico (5º e 6º anos) incluindo Livro do Aluno, Livro do Professor e gravação em cassete: “Os Sons do Mundo” e “O Mundo dos Sons” (edições ASA). Empenhámo-nos com prazer nesse projeto com características inovadoras de tal forma que prosseguimos a prática em duo, mas noutra perspetiva: piano a quatro mãos e dois pianos. Apresentámo-nos também em outras formações de música de câmara, nomeadamente, piano a 4 mãos com Canto e com Quarteto vocal. Realizámos a primeira audição em Portugal do Concerto para 2 pianos e orquestra de B. Martinú, em Lisboa, e em Santa Maria da Feira (Grande Auditório do Europarque), com a Orquestra Metropolitana de Lisboa sob a direção de Miguel Graça Moura. De novo as vidas ocupadas com trabalhos de Direção, Doutoramento, Investigação, obrigaram-nos a um interregno que foi quebrado em Maio de 2015, com um recital de piano a 4 mãos, em Coimbra, no Pavilhão de Portugal; em Junho, em Santa Maria da Feira, no auditório da Biblioteca; em Julho, no Porto (Auditório do Instituto Politécnico da Escola Superior de Educação). Em Outubro, em Paris, na Cité Universitaire, e os projetos continuam com programas renovados na intenção de comemorar os mais de 25 anos de piano em duo.

Com que época e compositor mais se identificam? 
Pensamos que não temos necessariamente de nos identificar com uma época ou compositor, pois, tratando-se de boa música, a realização é sempre gratificante e compensadora.

Dois pianos ou Piano a 4 mãos? 
Sempre magnífico, sempre uma sensação fantástica. A questão que é imposta constantemente é a maior dificuldade de disponibilidade de auditórios ou salas com dois pianos (bons ou compatíveis). No entanto, temos repertório para as duas modalidades.

O que acham do escasso número de obras editadas, publicadas e comercializadas em Portugal nos últimos anos? 
É um facto, mas também é verdade que tem havido um esforço para editar obra de compositores portugueses (caso, por exemplo, de Fernando Lopes Graça), e surgiram nos últimos anos bastantes CDs com obras de compositores portugueses interpretadas por músicos nacionais. Muito há ainda para fazer mas tenhamos esperança de que o panorama continue a mudar.

Porque o resto do Mundo continua tão distante dos grandes compositores portugueses? 
A verdade é que a Música portuguesa é mal ou pouco divulgada e, infelizmente, não só fora do país. É um passo em frente que merece e deve ser dado com empenho, pois temos muito bons compositores em todas as épocas.

O que ouvem no carro? 
Música clássica, Jazz, Fado e também alguma música popular portuguesa que vai surgindo com muita qualidade.

Porque é que a música erudita continua tão afastada do grande público? 
Pela simples razão de que o grande público nunca a “provou”. A escolha recai sempre sobre aquilo que já se provou e a que se está habituado (a sorte cabe aos curiosos!) No entanto, o ensino articulado põe mais gente nova em campo e pensamos que os tempos vão mudar, ao longo dos próximos anos.

O reconhecimento dos artistas portugueses no estrangeiro é uma ilusão? 
Não nos parece que seja uma ilusão, pelo que temos constatado. Há sempre uma conjugação importante a considerar: vontade, trabalho e, evidentemente, também alguma sorte.
E em Portugal? 

Em Portugal, o reconhecimento, por duro que pareça, torna-se mais complicado. O sentimento competitivo e o medo de perder o lugar ou de que alguém nos passe à frente é um factor negativo e dificulta o percurso.

Consideram que a pressão para a originalidade encaminhe vários artistas à mediocridade? 
Sem dúvida. Hoje, não só na música mas nas Artes em geral, há o pavor do “déjà vu” e pratica-se a “novidade” a todo o vapor. Felizmente, os verdadeiros artistas estão fora de questão.

Quais os próximos projectos? 
Mais concertos no país, e fora, divergindo programas e temáticas, participando em atividades culturais, apoiando causas e instituições, divulgando repertório de piano a 4 mãos e a 2 pianos, procurando fazer chegar a música a locais mais carenciados.




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